No início de dezembro, o Ministério de Minas e Energia firmou uma parceria com a Rosatom, estatal russa de atividades nucleares, para criar um grupo de trabalho que apresentará, até o final de 2025, um acordo final de cooperação nuclear entre Brasil e Rússia. Segundo o ministro Alexandre Silveira, a parceria se alinha à nova política nuclear brasileira, que visa ampliar a mineração de urânio, atualmente monopolizada pela estatal INB, e implementar pequenos reatores nucleares modulares (SMRs). "Contamos com a experiência da Rosatom para uma cooperação positiva e equilibrada entre as empresas brasileiras e russas. Que o nosso objetivo conjunto gere crescimento tecnológico robusto e seguro", afirmou Silveira no evento.
A Rosatom é uma gigante no setor nuclear mundial, responsável por projetos de usinas nucleares em diversos países e pioneira na tecnologia de pequenos reatores modulares (SMRs). No Brasil, sua atuação ainda é restrita ao fornecimento de radioisótopos e combustível nuclear. Durante o evento, a estatal russa destacou o potencial de desenvolver 1,1 gigawatt de geração nuclear no Brasil até 2035, com 0,6 GW provenientes de 12 reatores onshore e 0,5 GW de 10 reatores offshore. A parceria representa um marco, considerando que o Brasil historicamente buscou colaborações com países ocidentais, como EUA, Reino Unido e Alemanha, mas enfrentou obstáculos, incluindo desvantagens comerciais em episódios passados.
A possível entrada da Rosatom no mercado brasileiro foi celebrada pela professora Inayá Lima, coordenadora do Programa de Engenharia Nuclear da UFRJ. Para ela, "essa parceria é uma grande oportunidade para o país", que precisa diversificar suas fontes de energia e reduzir a dependência de combustíveis fósseis. A pesquisadora ressaltou que, mesmo com a matriz energética majoritariamente hidrelétrica, o Brasil ainda depende de termelétricas em períodos de seca. Segundo Lima, a expertise da Rosatom pode trazer soluções nucleares mais eficientes e sustentáveis, contribuindo para um setor energético mais equilibrado e moderno.
Os pequenos reatores modulares (SMRs), tecnologia na qual a Rosatom é referência global, foram destacados como uma solução promissora para o Brasil. Lima explicou que os SMRs apresentam vantagens como menor custo inicial, flexibilidade de instalação em locais remotos e maior segurança, graças a sistemas passivos que evitam acidentes graves sem intervenção humana. Além disso, esses reatores têm menor pegada de carbono e maior autonomia operacional. Tais características tornam os SMRs ideais para atender a demanda energética de regiões distantes e reduzir os custos de transmissão no Brasil, um país com grande extensão territorial.
Apesar das vantagens, Inayá Lima destacou desafios para a implementação dos SMRs no Brasil, como a falta de regulamentação específica e de mão de obra especializada. A flexibilidade dessa tecnologia, segundo a professora, permitiria atender demandas específicas, como fábricas ou localidades costeiras, e enfrentar o desafio da "curva do pato", quando a demanda por energia cresce ao final do dia. "Diferentemente dos grandes reatores, que exigem infraestrutura complexa, os SMRs são soluções inovadoras que podem ser implementadas de forma eficiente e segura, desde que haja preparo técnico e regulatório", concluiu Lima.
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Fonte: SPUTNIK BRASIL